Mário Quintana


Conhecido pela genial simplicidade de seus textos, Mario de Miranda Quintana é considerado um dos maiores poetas brasileiros do século 20, pertencente à segunda geração do Movimento Modernista. Filho do farmacêutico Celso de Oliveira Quintana e da dona de casa Virgínia de Miranda Quintana, o poeta e escritor nasceu no dia 30 de julho de 1906, em Alegrete, cidade do Rio Grande do Sul.

Após freqüentar algumas escolas em sua cidade natal, Quintana ingressou no Colégio Militar de Porto Alegre. Em regime de internato, começou a produzir seus primeiros trabalhos literários, publicados na revista dos alunos da instituição. Cinco anos depois, por problemas de saúde, Mario Quintana deixou o Colégio Militar e ficou em Porto Alegre trabalhando na Livraria do Globo, uma grande editora da época. Sua atividade na livraria durou apenas três meses. Em 1925, voltou a morar em Alegrete, onde passou a trabalhar na farmácia de seu pai, ao mesmo tempo em que continuou escrevendo poesias e contos.

Durante a Revolução de 30, alistou-se como voluntário no Batalhão dos Caçadores, uma das tropas civis que foi a pé até o Rio de Janeiro para conduzir Getúlio Vargas ao poder. Na então capital do país, morou por seis meses e depois retornou a Porto Alegre onde permaneceu até sua morte.
Ah, esses moralistas... Não há nada que empeste mais do que um desinfetante!
Fonte: O Pensador


Recebeu seu primeiro prêmio literário com a publicação do conto "A sétima personagem", em concurso promovido pelo jornal "Diário de Notícias", de Porto Alegre. A partir de 1934, Quintana começou a traduzir livros de diversos escritores estrangeiros como Fred Marsyat, Voltaire, Virginia Woolf, Papini, Maupassant e, até mesmo, Marcel Proust. Algumas dessas traduções obtiveram tanto sucesso que continuam sendo reeditadas. Ao ler um de seus poemas na revista Ibirapuitan, o já consagrado escritor Monteiro Lobato lhe pediu que escrevesse um livro. A obra foi produzida doze anos depois, com o título "Espelho Mágico".

O lançamento do seu primeiro livro só aconteceu em 1940, com a publicação de "A Rua dos Cataventos", obra formada por 35 sonetos que passam a ser publicados em diversos livros escolares. Apesar da boa aceitação pela crítica, o reconhecimento do seu trabalho como escritor só chegou três anos depois com "O aprendiz de feiticeiro", que recebeu elogios de grandes poetas brasileiros como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

Com um estilo tranqüilo e introspectivo, Quintana não se sentia à vontade para falar de sua vida pessoal. Em uma entrevista, chegou a dizer que a sua vida estava descrita nos seus poemas. "Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão". Solteiro e sem filhos, o escritor passou grande parte da sua vida morando em hotéis e pensões da capital gaúcha. Entre eles, durante mais de 12 anos, viveu no hotel Magestic. Após a sua morte, o prédio do hotel foi tombado e se transformou na Casa de Cultura Mario Quintana.

Em 1960, foi publicada a sua "Antologia Poética", organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, com mais de 60 poemas inéditos. A obra teve boa repercussão no meio editorial e recebeu o Prêmio Fernando Chinaglia como melhor livro do ano.

Apesar de ter vários amigos da Academia Brasileira de Letras, a exemplo de Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade, Quintana nunca conseguiu vencer a eleição para uma cadeira de imortal. Após a derrota na terceira eleição, o autor não perdeu o bom humor característico de sua obra e compôs um pequeno poema sobre o fato. "Todos esses que aí estão/ atravancando meu caminho,/ eles passarão.../ eu passarinho!". Apesar de não ter entrado para Academia, em 1981, o poeta recebeu o Prêmio Machado de Assis e, em 1981, o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano.

Quintana recebeu inúmeras homenagens durante a vida, mas morreu negando as reverências. "Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz", disse.

Mario Quintana trabalhou traduzindo obras para o português até morrer, perto de completar 87 anos, no dia 05 de maio de 1994. Nesta data, milhares de pessoas acompanharam o cortejo do poeta pelas ruas de Porto Alegre, prestando a sua última homenagem a um dos maiores representantes do Modernismo brasileiro.

Entre as suas obras publicadas estão "A Rua dos Cataventos" (1940), "Canções" (1945), "Sapato Florido" (1947), "Espelho Mágico" (1948), "O Aprendiz de Feiticeiro" (1950), "Poesias" (1962), "Pé de Pilão" (1968), "Apontamentos de História Sobrenatural" (1976), "Quintanares" (1976), "Nova Antologia Poética" (1982), "Batalhão das Letras" (1984), "Baú de Espantos" (1986), "Preparativos de Viagem" (1987) e "Velório sem Defunto" (1990).

Poesias de Mário Quintana

Cerca de 415 poesias de Mário Quintana
Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Mario Quintana
DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
Mario Quintana
DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
Mario Quintana
AS INDAGAÇÕES
A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.
Mario Quintana
DA FELICIDADE
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
Mario Quintana
DA DISCRIÇÃO
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...
Mario Quintana
DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
Mario Quintana
[O Trágico Dilema]
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.
Mario Quintana
POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Mario Quintana
[Quem Sabe um Dia]

Quem Sabe um Dia
Quem sabe um dia
Quem sabe um seremos
Quem sabe um viveremos
Quem sabe um morreremos!

Quem é que
Quem é macho
Quem é fêmea
Quem é humano, apenas!

Sabe amar
Sabe de mim e de si
Sabe de nós
Sabe ser um!

Um dia
Um mês
Um ano
Um(a) vida!

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois
Mario Quintana
Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...
Mario Quintana
Amor
Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo
Mario Quintana
DOS MILAGRES
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
Mario Quintana
No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
Mario Quintana
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...
Mario Quintana
SIMULTANEIDADE
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.
Mario Quintana
Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante.
Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo...
Mario Quintana
Quiseste expor teu coração a nu.
E assim, ouvi-lhe todo o amor alheio.
Ah, pobre amigo, nunca saibas tu
Como é ridículo o amor... alheio!
Mario Quintana
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Mario Quintana
INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"
Mario Quintana
    POEMINHA SENTIMENTAL

    O meu amor, o meu amor, Maria
    É como um fio telegráfico da estrada
    Aonde vêm pousar as andorinhas...
    De vez em quando chega uma
    E canta
    (Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
    Canta e vai-se embora
    Outra, nem isso,
    Mal chega, vai-se embora.
    A última que passou
    Limitou-se a fazer cocô
    No meu pobre fio de vida!
    No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
    As andorinhas é que mudam.
    Mario Quintana
    A verdadeira arte de viajar...
    A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
    Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
    Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
    Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
    Mario Quintana
    Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.

    Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?

    Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.
    Mario Quintana
    OS DEGRAUS
    Não desças os degraus do sonho
    Para não despertar os monstros.
    Não subas aos sótãos - onde
    Os deuses, por trás das suas máscaras,
    Ocultam o próprio enigma.
    Não desças, não subas, fica.
    O mistério está é na tua vida!
    E é um sonho louco este nosso mundo...
    Mario Quintana
    No ano passado...

    Já repararam como é bom dizer "o ano passado"? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem...Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse "tudo" se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraodinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho da Associeted Press em que, depois de anunciado como se comemoraria nos diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informava-se o seguinte, que bem merece um parágrafo à parte:

    "Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados".

    Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, à guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho. Mas seria levar muito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido num andar térreo. E, por outro lado, metáforas a gente não faz para a Polícia, que só quer saber de coisas concretas. Metáforas são para aproveitar em versos...

    Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado.
    Morri? Não. Ressuscitei. Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova.
    Mario Quintana
    Do bem e do mal
    Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos.
    Não há coisa na vida inteiramente má.
    Tu dizes que a verdade produz frutos...
    Já viste as flores que a mentira dá?
    Mario Quintana
    Da Perfeição da Vida
    Por que prender a vida em conceitos e normas?
    O Belo e o Feio... O Bom e o Mau... Dor e Prazer...
    Tudo, afinal, são formas
    E não degraus do Ser!
    Mario Quintana
    Da calúnia
    Sorri com tranquilidade
    Quando alguém te calunia.
    Quem sabe o que não seria
    Se ele dissesse a verdade...
    Mario Quintana
    O Eterno Espanto
    Que haverá com a lua que sempre que a gente a olha é com o súbito espanto da primeira vez?
    Mario Quintana
    INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA
    A vida é um incêndio: nela
    dançamos, salamandras mágicas
    Que importa restarem cinzas
    se a chama foi bela e alta?
    Em meio aos toros que desabam,
    cantemos a canção das chamas!

    Cantemos a canção da vida,
    na própria luz consumida...
    Mario Quintana
    [Do Bem o do Mal]
    No fundo, não há bons nem maus. Há apenas os que sentem prazer em fazer o bem e os que sentem prazer em fazer o mal. Tudo é volúpia...
    Mario Quintana
    Poema Transitório

    (...) é preciso partir
    é preciso chegar
    é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é urgente!

    ... no entanto
    eu gostava mesmo era de partir...
    e - até hoje - quando acaso embarco
    para alguma parte
    acomodo-me no meu lugar
    fecho os olhos e sonho:
    viajar, viajar
    mas para parte nenhuma...
    viajar indefinidamente...
    como uma nave espacial perdida entre as estrelas.
    Mario Quintana
    Três amores... Quem me deu
    Tão estranha sorte assim?
    Três amores, tenho-os eu
    E nenhum me tem a mim!
    Mario Quintana
    Quem faz um poema abre uma janela.
    Respira, tu que estás numa cela abafada,
    esse ar que entra por ela.
    Por isso é que os poemas têm ritmo
    - para que possas profundamente respirar.
    Quem faz um poema salva um afogado.
    Mario Quintana
    LEGÍTIMA APROPRIAÇÃO
    Copio e assino essa frase encontrada no velho Schopenhauer: "A soma de barulho que uma pessoa pode suportar está na razão inversa de sua capacidade mental".
    Mario Quintana
    Sinônimos
    Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.
    Mario Quintana
    ESPERANÇA

    Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
    Vive uma louca chamada Esperança
    E ela pensa que quando todas as sirenas
    Todas as buzinas
    Todos os reco-recos tocarem
    Atira-se
    E
    — ó delicioso vôo!
    Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
    Outra vez criança...
    E em torno dela indagará o povo:
    — Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
    E ela lhes dirá
    (É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
    Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
    — O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
    Mario Quintana
    [A Arte de Ler]
    O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.
    Mario Quintana
    PEQUENO ESCLARECIMENTO
    Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.
    (Em A Vaca e o Hipogrifo)
    Mario Quintana
    Tempo
    Coisa que acaba de deixar a querida leitora um pouco mais velha ao chegar ao fim desta linha.
    Mario Quintana

    O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo
    que não admite acompanhamento sólido. Mas eu o driblo,
    saboreando, junto com ele, o cheiro das torradas-na-manteiga
    que alguém pediu na mesa próxima.
    Mario Quintana
    Nos acontecimentos, sim, é que há destino:
    Nos homens, não - espuma de um segundo...
    Se Colombo morresse em pequenino,
    O Neves descobriria o Novo Mundo.
    Mario Quintana
    Já trazes, ao nascer, a tua filosofia.
    As razões? Essas vêm posteriormente,
    Tal como escolhes, na chapelaria,
    A forma que mais te assente...
    Mario Quintana
    [Busca]
    Subnutrido de beleza, meu cachorro-poema vai farejando poesia em tudo, pois nunca se sabe quanto tesouro andará desperdiçado por aí...
    Quanto filhotinho de estrela atirado no lixo!
    Mario Quintana
    [A Carta]
    Quando completei quinze anos, meu compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.
    Mario Quintana
    SEMPRE QUE CHOVE
    Sempre que chove
    Tudo faz tanto tempo...
    E qualquer poema que acaso eu escreva
    Vem sempre datado de 1779!
    Mario Quintana
    [Leitura]
    Se é proibido escrever nos monumentos, também deveria haver uma lei que proibisse escrever sobre Shakespeare e Camões.
    Mario Quintana
    Edificante Poema Escrito em Portuñol

    Don Ramón se tomo um pifón:
    bebia demasiado, don Ramón!

    Y al volver cambaleante a su casa,
    avistó em el camino:
    um árbol
    y um toro...

    Pero como veia duplo, don Ramón
    vio um árbol que era
    y um árbol que no era,
    um toro que era
    y um toro que no era.
    Y don Ramón se subió al árbol que no era:
    Y lo atropelo el toro que era.
    Triste fim de don Ramón!
    Mario Quintana
    Ah! Essas Precauções...
    Para desespero de seus parentes, o velho rei Mitridates, como todo mundo sabe, conseguiu tornar-se imune a todos os venenos... até que um bom tijolaço na cabeça liquidou o assunto.
    Mario Quintana
    Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.
    Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
    nem desconfia que se acha conosco desde o início
    das eras. Pensa que está somente afogando problemas
    dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
    inquietação do mundo!
    Mario Quintana
    Um poema como um gole d'água bebido no escuro.
    Como um pobre animal palpitando ferido.
    Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na
    [floresta noturna.
    Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição
    [de poema.
    Triste.
    Solitário.
    Único.
    Ferido de mortal beleza.
    Mario Quintana
    [O Tamanho Do Espaço]
    A medida do espaço somo nós, homens,
    Baterias de cozinha e jazz-band,
    Estrelas, pássaros, satélites perdidos,
    Aquele cabide no recinto do meu quarto,
    Com toda a minha preguiça dependurada nele...
    O espaço, que seria dele sem nós?
    Mas o que enche, mesmo, toda a sua infinitude
    É o poema!
    - por mais leve, mais breve, por mínimo que seja...
    Mario Quintana
    [Leituras]
    - Você ainda não leu O Significado do Significado? Não? Assim você nunca fica em dia.
    - Mas eu estou só esperando que apareça O Significado do Significado do Significado.
    Mario Quintana
    O tempo

    A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
    Quando se vê, já são seis horas!
    Quando de vê, já é sexta-feira!
    Quando se vê, já é natal...
    Quando se vê, já terminou o ano...
    Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
    Quando se vê passaram 50 anos!
    Agora é tarde demais para ser reprovado...
    Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
    Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
    Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
    E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
    Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
    A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
    Mario Quintana
    Nunca diga te amo se não te interessa.
    Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.

    Nunca toque numa vida se não pretende romper um coração.
    Nunca olhe nos olhos de alguém se não quiser vê-lo se derramar em lágrimas por causa de ti.

    A coisa mais cruel que alguém pode fazer é permitir que alguém se apaixone por você quando você não pretende fazer o mesmo.
    Mario Quintana
    Somos donos de nossos atos,
    mas não donos de nossos sentimentos;
    Somos culpados pelo que fazemos,
    mas não somos culpados pelo que sentimos;
    Podemos prometer atos,
    mas não podemos prometer sentimentos...
    Atos sao pássaros engailoados,
    sentimentos são passaros em vôo.
    Mario Quintana
    BORBOLETAS

    Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de
    se decepcionar é grande.

    As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as dela.

    Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.

    As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.

    Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida.

    Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você.

    O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.

    No final das contas, você vai achar
    não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!
    Mario Quintana
    " Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto,
    Mesmo quando a situação não for muito alegre...
    E que esse meu sorriso consiga transmitir paz
    para os que estiverem ao meu redor.
    Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...
    E poder ter a absoluta certeza de que esse alguém
    também pensa em mim quando fecha os olhos,
    que faço falta quando não estou por perto.
    Queria ter a certeza de que apesar de minhas
    renúncias e loucuras, alguém me valoriza
    pelo que sou, não pelo que tenho...
    Que me veja como um ser humano completo,
    que abusa demais dos bons sentimentos
    que a vida proporciona,
    que dê valor ao que realmente importa,
    que é meu sentimento...e não brinque com ele."
    Mario Quintana
    Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata...
    Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
    Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
    Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
    Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
    Um dia saberemos que ser classificado como o "bonzinho" não é bom...
    Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você...
    Um dia percebemos que somos muito importante para alguém, mas não damos valor a isso...
    Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais...
    Enfim...
    Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para dizer tudo o que tem que ser dito...
    O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutar para realizar todas as nossas loucuras...
    Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.
    Mario Quintana
    Qualquer ideia que te agrade,
    Por isso mesmo... é tua.
    O autor nada mais fez que vestir a verdade
    Que dentro em ti se achava inteiramente nua...
    Mario Quintana


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